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Então, o que serei eu, senão mais um choramingas?



No final das contas, o que eu serei? Passei a vida inteira lamentando os acontecimentos trágicos que me cercaram e nunca reagi ao meu caos interno. O máximo que fiz foi me encolher em um canto qualquer e chorar, daqueles choros que você soluça, engasga, para de chorar por dois minutos e desaba novamente.     

Eu sempre fui a vítima da situação, nunca o culpado. Eu sempre pensei: “Pouco me importa se todos eles morrerem, foram eles quem me mataram primeiro”, mas eu nunca tentei enxergar o outro lado. Eu sempre estive certo quando dizia que eu poco me importava com os outros, mas não foram eles quem me mataram. 

Eu me deixei levar, me deixei ser carregado por ladainhas e pouco papo, e acabei me matando. Foi um suicídio inconsciente – ou meu subconsciente me enganou mais uma vez? - A vida inteira eu fui o mocinho da trama, nunca o vilão. 

Eu nunca tentei ultrapassar esse muro de minha mente, no qual, do outro lado, estava a mente das pessoas. Eu nunca me preocupei em beber pouco, ou eu bebia todas ou não bebia. Cigarros então, eu parecia uma locomotiva solitária. Nunca me entreguei aos supostos amores que tive, não por falta de querer e sim por medo. 

Eu sempre fui um medroso de marca maior, daqueles que sabe disfarçar o medo, mas nunca deixa de tê-lo. Eu sempre, sempre, culpei o mundo pelos abandonos que sofri, pelos amores que não vivi, por um fígado acabado e pulmões que já estão por um fio, mas eu nunca parei para pensar, que fui eu quem não tive paciência, fui eu quem tive medos bobos, fui eu quem bebeu até não aguentar mais e fui eu quem fumou todos os cigarros. 

Eu sempre culpei todos pela guerra interna que acontece dentro de mim, mas nunca reparei que sou eu o único soldado que está guerreando. Então, o que serei eu, senão mais um choramingas? (Texto escrito por Cillenus do blog Trovador Solitário)

1 comentários:

  1. UAU, que texto ótimo, e uma reflexão intensa!

    www.serounaoseer.blogspot.com.br

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